Cristovam Buarque, educação e a internacionalização da Amazônia

Quem não conhece o texto do senador Cristovam Buarque sobre a internacionalização da Amazônia?

O texto circula há anos pela internet na forma de emails, apresentações de power point e mais recentemente, vídeos. Eu já vi a autoria do texto sendo contestada, mas é mesmo do Cristovam Buarque. Para quem não conhece, pode ver a matéria original na pagina do senador.
Quase oito anos do texto A internacionalização do Mundo – 28/3/08
Cristovam Buarque – 07-Mai-2008

Bom, eu não estou fazendo campanha política para ele, ao menos não ainda (hehe) mas acho esse texto maravilhoso, especialmente agora vivendo nos EUA – vou ter que publicar a versão em inglês no próximo post. O que de fato me inspirou para escrever sobre ele foi a entrevista publicada na Ciência Hoje de abril sobre educação (http://cienciahoje.uol.com.br/209). Uma pena que a entrevista não está disponível online.

O senador discorre sobre a desigualdade na educação brasileira, onde ricos freqüentam as melhores escolas e vão a faculdade enquanto pobres não terminam o ensino médio – aposto que ninguém sabia disso, mas na hora das responsabilidades dessa tragédia, é um Deus nos Acuda. O governo justifica deixar a escola para trás alegando que não haverá dinheiro para outras prioridades se investir em educação, a sociedade não cobra pois estudo não é valorizado em nossa cultura (quem quer ter filho filósofo e com salário baixo??). Ao mesmo tempo, a população mais rica (e educada) não se importa em brigar por esse direito, já que a educação de seus filhos já está garantida – e é apoiada com dinheiro público através de descontos no imposto de renda (!!!).

O programa bolsa-escola (criado pelo ex-presidente FHC) foi substituído pelo bolsa-família. Pagamento baixo de professores e escolas em estado precário também foram apontadas como culpadas na baixa qualidade do ensino público brasileiro. E, o que pode ser feito para melhorar a situação? O senador propõe a federalização do ensino de base no país para terminar com desigualdades provenientes da diferente renda dos municípios, mas seriam necessários 7 bilhões por ano para essa reforma (uau!!!) que contaria com a melhoria dos prédios, equipamentos e pagamento de salários decentes aos professores. Ao mesmo tempo, ele defende o uso de diferentes metodologias de ensino, do fortalecimento do ensino a distância e do fim do sistema de cotas quando houver um ensino de base fortalecido.

Isso tudo não parece novidade nenhuma, mas ao mesmo tempo algumas idéias parecem originais, já que nada vêm sendo feito em termos de grandes mobilizações a favor da educação no Brasil (tá, tá… desde quando o Brasil tem grandes manifestações políticas que não são coordenadas pela Globo e os caras pintadas? Desde a década de 60 provavelmente… só o Bush conseguiu nos tirar do marasmo). De qualquer maneira, ainda falta sair da teoria para a prática. Falta visualizar a edução como forma de crescimento de indivíduos e do país e não só como trampolim para melhores salários. E, Cristovam me convenceu, agora sou educacionista – mesmo que ainda não tenha decidido dar meu voto para ele, já que de boas intenções o inferno está cheio e de políticos demagógicos também e sou como São Tomé que só acredito vendo. Para ele Educacionismo é colocar a educação como o vetor da construção da civilização. A idéia é simples, óbvia e refinadissíma. E, existe algum outro meio de realmente construir a civilização que não por educação?

Vou me permitir transcrever um pedacinho da entrevista. Fred Furtado, o repórter da Ciência Hoje pergunta se a educação é a solução para o Brasil. Aqui vai a resposta:

“Sim, porque temos dois muros no país: o da desigualdade e o do atraso em relação à outras nações. A única maneira de saltá-los é a educação. A idéia de que o crescimento econômico permitiria ultrapassar esses obstáculos não funciona. Não conseguiremos nos tornar um país civilizado, nos padrões europeus – sem violência, com um sistema social eficiente e sem desigualdades – só com a economia. Esta cresce enriquecendo mais os que estão dentro da modernidade e mantendo à parte os que estão fora. Portanto, esses dois muros, que são as grandes tragédias brasileiras, só serão derrubados ou saltados por uma revolução na educação que assegure a mesma chance para todos: a de concluir um ensino médio de máxima qualidade. (…)

Por outro lado, o verdadeiro capital daqui para a frente é o conhecimento, é ele que gera valor (…) O preço de um medicamento, por exemplo, não depende da matéria prima e sim da ciência e tecnologia utilizadas na sua fabricação”

E dá para não ser educacionista?

2 Comentários

Arquivado em Brasil, Divagações, Educação

2 Respostas para “Cristovam Buarque, educação e a internacionalização da Amazônia

  1. Elizabeth

    pelo que eu saiba o bolsa familia exige sim que as crianças estejam na escola! já saiu diversas matérias nos telejornais!

    • Ana

      Oi Elizabeth,

      Meu engano, as crianças precisam ter 85% de presença (apesar de que na época que esse post foi escrito, ao redor de 3 milhões de estudantes não tinham suas frequências escolares acompanhadas).

      A maior crítica da mudança do bolsa-escola para bolsa-família é a mudança de enfoque na escola, ao ato de ir para a escola e estudar, para assistencialismo.

      Veja aqui o que o Senador Cristovam Buarque disse a respeito em um encontro sobre o tema “Cristovam Buarque observou que existem concepções diferentes por trás dos dois programas. Enquanto no programa anterior a ênfase principal era a escola, comparou, no Bolsa Família a prioridade passou a ser a transferência de renda. Após recordar o controle de freqüência que existiu no programa Bolsa-Escola, implantado por ele quando governador do Distrito Federal, Cristovam elogiou o governo mexicano, por adotar um controle diário da presença na escola, por meio de chips embutidos em cartões fornecidos aos estudantes.”

      Fonte:http://jps-sc.blogspot.com/2007/10/diferenas-entre-bolsa-escola-e-bolsa.html

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